Palavra do Alpinista - Jam - Ser Mãe
Ei, mãe! Para um pouco. Um pouquinho só! Tô pedindo!!
Eu sei que não importa quantos anos se passem, mas as mães têm a eterna sensação de que são responsáveis por tudo. Pelas suas vidas, pelas nossas vidas, pela vida de nós filhos, pelo trabalho e até por coisas que estão fora do seu alcance.
Sei que não adianta dizer que já sou adulta, porque a minha mãe jamais aceita que não está mais no comando.
Pois é, mãe. Eu cresci. Não só por causa do trabalho, das responsabilidades e cobranças. Eu por exemplo, tive certeza que me tornei adulta, quando em um dia qualquer eu precisei engolir o choro para que você não visse. O dia em que disse que estava tudo bem quando o peito estava cheio de dor. O dia em que esperei você virar as costas para poder desmoronar.
Por quê? Porque eu sabia que, de um jeito ou de outro, as coisas se ajeitariam. E não ia ser através você. Então, por que preocupa-la? Para quê angustia-la mais do que já se angustia por conta própria? Pelo simples fato de ser mãe, me ver sair e não conseguir dormir até ver que cheguei em casa sã e salva?
Senhorinha, eu já deixei de ser depende de sua barriga, das mamadeiras quentinhas, da ajuda no banho, do ninar para dormir. Mas já entendi que você jamais deixará de se preocupar comigo. Talvez se preocupe ainda mais agora, porque sabe que o voo é cada vez mais alto.
Quantas vezes nessa vida eu gritei “EU QUERO A MINHA MÃE! ”? Na verdade, eu não queria. Eu precisava. Precisava do seu colo, do seu beijo na testa, do seu cafuné, do seu cheiro. Precisava, porque sem você não havia chão. Esses dias mesmo, tive uma crise de choro e mais uma vez eu gritei: EU QUERO A MINHA MÃE!!!!! Quem nunca né?
Hoje sou adulta. A minha mãe já me ensinou a amarrar os sapatos, andar olhando para a frente, levantar das quedas, limpar as lágrimas, rir de si mesmo e seguir em frente. Hoje o mundo gira sem que você me empurre. Eu me viro sem que você perca o sono. Porque chegamos num ponto da vida em que eu perco o sono ao ver você sem dormir. Ao sair e não pregar o olho até você chegar.
O famoso “eu quero a minha mãe! ” Está na hora de dar espaço ao “EU QUERO VOCÊ”. Mas quero você tranquila, ouvindo minhas histórias, rindo comigo, opinando, discordando. Não de peito apertado. Não suspirando pelos cantos achando que não vou encontrar o caminho certo. Eu vou! Você me entregou o Google Maps com a direção certinha!
Você construiu uma pessoa com o que havia de melhor em você. Deu o que tinha e o que não tinha para me fazer uma criança mais do que feliz! Eu tenho consciência da minha sorte e espero que os outros Alpinistas também.
No mais, só posso pedir que olhe por mim, peça por mim, orgulhe-se de mim. Não me iludo, achando que vai parar de se preocupar com seus filhos, comigo. Eu sei que isso é uma missão impossível. Mas deixe-me pelo menos hoje, no dia das mães, dizer que está tudo certo e que pode dormir tranquila.
Um grande beijo de feliz dia das mães às mães de sangue, mães de coração, mães que estão do
outro lado das nuvens (mas sempre por perto), pais que também são mães e às tantas madrastas que são o avesso dos contos de fadas, que cuidam e amam pessoinhas que decidiram abraçar como suas.
Jamile Coutinho - Jam - 27ª Escalada Master em Salvador - Equilíbrio